1. |
O Melhor Lugar
02:49
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O MELHOR LUGAR
Eu queria estar perto e conhecer
o que o eco diz da porta de dentro em primeira mão.
A tua atenção faz-me tremer
e o afeto que acabo por te dar serve p’ra me denunciar.
Quero-te beijar, afagar-te o corpo de manhã,
esquecer o tempo e ficar.
Ela sorri p’ra mim ao reparar no meu olhar
e pergunta se também quero fumar.
Digo que não. Quero mergulhar na canção.
Vem comigo!’
Ao sorrir de volta, eu digo:
“Poderia dar certo,
a verdade é que
já ando a pensar em ti
faz tanto tempo.
Quando voltares cá,
já cá não vou estar.
És desencontro
em que me encontro.”
E atravesso o canal
na esperança de te ver.
Já de volta ao Porto,
no Vera Cruz.
Digo ao chá
que ando a ver
se me entendo.
Rolos para revelar
P’ra lembrar a manhã,
a tua voz,
A liberdade que tu me fazes sentir.
Tu és o melhor lugar.
Sonho que sorris ao reparar no meu olhar
e perguntas se sempre quero fumar.
Digo que sim.
Quero mergulhar no que é teu, ir contigo!
Pode ser que um dia consiga.
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2. |
Abdicação
04:57
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ABDICAÇÃO
A ferida é o que sobra para me compreender
A auto-estima volta, mas a ferida não
Por tanto querer quase deitei tudo a perder
Ia ficando para trás.
Abdiquei demais,
“Regressei à noite antiga e
calma”, o que sobra chega para me erguer
O que magoava ontem, hoje serve de lição
E eu já só penso no amanhã
tanto que eu temo não estar sequer aqui,
no momento.
Seja tudo sonho ou não
Ao morrer do dia tudo vai com a maré
Tu a dormir e eu pé ante pé
Trago enfim o que te pertence
Andavas perdido, não tem mal
Foi por ter dado um passo atrás que avancei
Ia tropeçando no fervor do ego
“trono de sonhos e cansaços
Minha espada, pesada a braços lassos”,
o que a mágoa deixa é a lição
A vulnerabilidade por vezes prende o coração
E eu já me sinto mais em mim
Mesmo que a dúvida persista
em insisto em perguntar porquê.
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3. |
E Se Eu Ficar
04:11
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E SE EU FICAR
E se eu ficar
vais ver
que a dor em mim
é ter de ir
e não poder voltar.
Quando eu voltar
vou dizer
que o amor em mim
cresce devagar
se me deixares entrar.
Tens andado tão longe de mim.
Tens andado perto da loucura.
Sinto-te a chamar por mim.
É que o vento vai-nos levando,
vamos voltando a nós.
Tens andado à procura de ti.
Tens andado longe da verdade.
Sinto-te a chamar por mim.
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4. |
Bó Camiño
06:01
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BÓ CAMIÑO
Podias ter cortado a corda
enquanto ainda era tempo.
Agora vais tê-lo de sobra
para lembrares o momento.
A nossa antiga porta ficou aberta,
deixei o coração lá dentro.
Se persigo a sombra, pela certa
somo sangue à minha sina.
O corvo voa em torno do corpo deitado.
A pedra em que me sento à beira do lago lembra-me
a gravura do jornal
que deixei colada na parede.
O corpo quase derrete para me matar a sede
por não haver vinho que chegue
para dar de beber a esta gente toda
a quem dou abrigo na minha cabeça.
O que a mágoa cala e a doença pensa
jamais te dirá respeito de novo.
O corpo à proa veste um brilho molhado,
mergulha no lago, sente o peito lavado.
Lembra-me o que faço aqui.
Outro ser circunda o corpo deitado, julgando-se tão mudado.
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5. |
Câmara de Eco
02:44
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CÂMARA DE ECO
Tenho uma tempestade dentro de mim,
mas o sol lá fora brilha
e eu num barco prestes a afundar
num lago de cristal.
Ando distante do mundo, preso em mim.
Enquanto ela dança.
Rodopia como eu, só que não estou lá.
Nessa valsa leve, dispo o medo e mergulho
Num oceano de dúvida
como ave a cantar
numa ilha deserta.
Às vezes sinto-me só.
Livre, mas sem mim
como se à deriva.
E ao chegar a casa
deito-me enfim.
O disco a tocar
lembra-me de ti.
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6. |
O Erro
03:40
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O ERRO
Chega o céu a meio do voo.
Vem para me dizer que existo só
no meu pensamento.
Quando o silêncio
invade a cidade
vejo em todo o lado
a imensidão aparecer.
Dou por mim a pensar
no infinito à minha porta.
O erro é relegar para a memória
o instante.
Mas não acabamos nunca.
Eu só vim para ver se a vida é mel
que lambo dos dedos.
Do pó de estrelas
que escreve nossa história
emana outra glória.
O caminho faz-se sem direção.
Onde quer que o mar me leve,
essa viagem nunca há-de acabar.
O erro é chamar ao instante
memória.
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7. |
Interlúdio (Cisma Mente)
01:22
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CISMA MENTE
Não me ponhas pressão.
Eu sinto
que nem sempre sou sincero,
minto quando
sinto que devo falar.
Fico a cismar
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8. |
Quarta Parede
04:42
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QUARTA PAREDE
O mistério é a causa da atração.
Ninguém sabe onde o caminho vai dar
e o eco que oiço ao passar
foi silêncio de outra geração.
O tédio, fonte da criação.
As vontades, Blimunda, Baltazar
e os cegos entram num bar
discutindo a sua conceção.
Se a soubessem de antemão
não teria piada.
Vivo para descobrir.
Eu sou o meu mar.
O império que julguei construir
depressa caiu em cinzas no chão
e o ego deixou de importar.
O livro cismou acabar.
O sabor do fim na mão,
caso mal parado.
Quero viver de sangue na guelra.
Morte ao medo! Não hei-de fugir!
Quero sentir tudo de todas as formas!
Partir rumo à primavera!
Som, eco, sombra, luz, sabor.
Trago, tacto, dor, perfume da flor.
O corpo é tudo.
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9. |
Deixa-me
02:56
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DEIXA-ME
Deixa-me estar.
Deixa-me descobrir.
Deixa-me sentir.
Se falhar,
não faz mal,
Começo do princípio,
vejo assim novos horizontes.
Deixa-te andar.
Deixa-te ir por ir.
Deixo-te partir
amanhã.
Hoje fica,
vai por mim:
Viver na maré
é o que tu procuras
mesmo que não o saibas.
Não tens de o saber.
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10. |
Mutação
03:06
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MUTAÇÃO
Nunca consegui agarrar o universo.
Disperso naquilo em que acredito
pode haver tudo o que julgo ser falso.
Nas minhas mãos está a raiz
de um outro ser,
esperando ainda o seu lugar.
Posso vir a mudar.
Tudo o que julgo ser verdade
pode não o ser.
Se não for,
vamos somando formas de ver.
Não há nada a perder ou ganhar
e aprender é ter coragem
de admitir o erro.
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11. |
Eterno Retorno
03:56
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ETERNO RETORNO
O futuro espera
por mim.
Em silêncio,
vai-me tornando irreal.
Vou-me afastando
sem olhar p’ra trás.
Deixo-me ficar
preso ao ideal.
Vivo nos braços da utopia,
voo efémero rumo à luz.
Vou-me encontrando pelo caminho,
vendo o tempo
a separar-se de nós.
Pela mão da minha mente
construo um sonho incoerente.
Fico a pensar no impossível,
desprezo tudo o tangível.
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12. |
Ano Novo
05:47
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ANO NOVO
Sem hesitar, parto cedo
e caminho só
O infinito
é pedir demais
O rio corre
e a luz difusa do sol primaveril
doura-nos a pele
lava o que se entranhou
Estival madrugada
Estrela da manhã
Outra margem, novo mundo
Leve oscilação
A folha cai, jaz caduca
Brisa outonal
faz querer estar só
a ouvi-la cantar
Cinza invernal
Neve cai certa
Vejo o cume
do terceiro andar
A catarse é o trigo
atravessando a mó
e o grito é sinal
do fim da frustração.
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13. |
Mente Sem Lugar
12:35
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MENTE SEM LUGAR
Não quer chorar
e na volta nem se vai lembrar
do que é seu quando eu perguntar
de onde vem e onde quer parar
p’ra beber até se esquecer
que existe um mar
entre nós.
Ao levantar
traz-me sonhos para eu brincar,
luz do céu p’ra me abrigar.
Chove sem se ouvir e sem molhar
p’ra esquecer o que faz temer
que exista mar
entre nós.
Antes desse outrora,
fui pássaro sem voar.
Conto a minha história
p’ra me lembrar,
p’ra me deixar,
p’ra me entregar.
Quando a noite chegar,
eu vou tentar esconder
Quando amanhecer,
verei mar reaparecer.
Vem, devagar.
É no amor que tu te vais encontrar.
Vou tentar outra vez, mesmo que
devagar, é o amor quem te há-de encontrar.
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Feynman Porto, Portugal
Banda do Porto formada no verão de 2019.
Carlos Lopes - teclados
Eduardo Serra - baixo
Francisco Brito -
voz, guitarra
Zé Stark - bateria
Convidados:
André Teixeira - gritos
Hristo Goleminov - saxofone
Teresa Costa - flauta, flautim
Vera Morais - voz
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