1. |
Mutação
03:02
|
|||
|
MUTAÇÃO
Nunca consegui agarrar o universo.
Disperso naquilo em que acredito
pode haver tudo o que julgo ser falso.
Nas minhas mãos está a raiz
de um outro ser,
esperando ainda o seu lugar.
Posso vir a mudar.
Tudo o que julgo ser verdade
pode não o ser.
Se não for,
vamos somando formas de ver.
Não há nada a perder ou ganhar
e aprender é ter coragem
de admitir o erro.
|
||||
2. |
Quarta Parede
04:47
|
|||
|
QUARTA PAREDE
O mistério é a causa da atração.
Ninguém sabe onde o caminho vai dar
e o eco que oiço ao passar
foi silêncio de outra geração.
O tédio, fonte da criação.
As vontades, Blimunda, Baltazar
e os cegos entram num bar
discutindo a sua conceção.
Se a soubessem de antemão
não teria piada.
Vivo para descobrir.
Eu sou o meu mar.
O império que julguei construir
depressa caiu em cinzas no chão
e o ego deixou de importar.
O livro cismou acabar.
O sabor do fim na mão,
caso mal parado.
Quero viver de sangue na guelra.
Morte ao medo! Não hei-de fugir!
Quero sentir tudo de todas as formas!
Partir rumo à primavera!
Som, eco, sombra, luz, sabor.
Trago, tacto, dor, perfume da flor.
O corpo é tudo.
|
||||
3. |
O Erro
03:20
|
|||
|
O ERRO
Chega o céu a meio do voo.
Vem para me dizer que existo só
no meu pensamento.
Quando o silêncio
invade a cidade
vejo em todo o lado
a imensidão aparecer.
Dou por mim a pensar
no infinito à minha porta.
O erro é relegar para a memória
o instante.
Mas não acabamos nunca.
Eu só vim para ver se a vida é mel
que lambo dos dedos.
Do pó de estrelas
que escreve nossa história
emana outra glória.
O caminho faz-se sem direção.
Onde quer que o mar me leve,
essa viagem nunca há-de acabar.
O erro é chamar ao instante
memória.
|
||||
4. |
Bó Camiño
05:41
|
|||
|
BÓ CAMIÑO
Podias ter cortado a corda
enquanto ainda era tempo.
Agora vais tê-lo de sobra
para lembrares o momento.
A nossa antiga porta ficou aberta,
deixei o coração lá dentro.
Se persigo a sombra, pela certa
somo sangue à minha sina.
O corvo voa em torno do corpo deitado.
A pedra em que me sento à beira do lago lembra-me
a gravura do jornal
que deixei colada na parede.
O corpo quase derrete para me matar a sede
por não haver vinho que chegue
para dar de beber a esta gente toda
a quem dou abrigo na minha cabeça.
O que a mágoa cala e a doença pensa
jamais te dirá respeito de novo.
O corpo à proa veste um brilho molhado,
mergulha no lago, sente o peito lavado.
Lembra-me o que faço aqui.
Outro ser circunda o corpo deitado, julgando-se tão mudado.
|
||||
5. |
Dois Lados
05:48
|
|||
|
DOIS LADOS
Devia doer, mas eu não sinto nada.
De olhos tristes no café,
à espera que tu chegues.
Quando apareces
digo que não espero nada de ti.
Sou um homem modesto,
já habituado à solidão,
ou não
e é uma máscara
que ponho ao antever
o teu beijo, o desejo.
Quero ficar contigo.
O perigo é que eu vou
querer sempre mais.
Devia esquecê-la,
mas eu trago uma marca
no peito.
Mesmo que deserto o coração,
persiste a memória.
Para que serve?
Não sei mais
para onde vou.
Pode ser que a lua nos leve
pela noite mais sombria
até chegar o dia,
a manhã clara
do teu beijo, do desejo.
Quero estar contigo
sem defesas.
Elas não são precisas.
Deito o muro abaixo,
deixo-me ver
o que existe do outro lado
não existe deste lado
se não existo em nenhum lado,
se não existes a meu lado.
|
||||
6. |
Barco à Deriva
03:33
|
|||
|
BARCO À DERIVA
Céu de outubro.
Fecho a cortina.
Danço ao rubro entre a neblina
e a vida à espera.
De manhã,
a mesma rotina.
Avanço rumo à mesma ruína
e ergo a espada.
De caravela no olhar,
o mar é manto de cetim.
Falta descobrir-me a mim
e talvez possa navegar.
Joana faz
um risco no chão.
Pedro sente a vibração.
Fez-se uma ilha.
Cai a noite.
A estrela do norte
guia-nos à praia-mãe.
Fica o barco à deriva.
|
||||
Feynman Porto, Portugal
Banda do Porto formada no verão de 2019.
Carlos Lopes - teclados
Eduardo Serra - baixo
Francisco Brito -
voz, guitarra
Zé Stark - bateria
Convidados:
André Teixeira - gritos
Hristo Goleminov - saxofone
Teresa Costa - flauta, flautim
Vera Morais - voz
... more
Feynman recommends:
How Can We Be Joyful in a World Full of Knowledge?
by Bruno Pernadas
Pernadas fez um dos melhores discos que saíram em Portugal recentemente. Mistura vários géneros musicais e faz parte de uma comunidade incrível de músicos que podem acompanhar na Pataca Discos.
go to album
Esta escolha ilustra o trabalho incrível da Porta-Jazz na divulgação e apoio da comunidade de músicos de jazz do Porto. Este disco em particular é uma espécie de jazz-rock etéreo.
go to albumIf you like Feynman, you may also like:
Cermony's Ross John Farrar experiments with synths, bass, & percussion to make music similar to that from the '80s homemade tape scene.
go to album
ETERNAL LIFE NOW
by Bad Pelicans
A gigantic tempest of sound, “Eternal Life Now” is harrowing art punk with dark corners & jagged edges.
go to album
The Besnard Lakes Are the Last of the Great Thunderstorm Warnings
by The Besnard Lakes
The Besnard Lakes return with their first new LP in four years, full of the same mystery and wonder on which they have built their name.
go to album
Brighton quartet Zooni round out their slick, ultra-rhythmic art rock vision with smart lyrics and ever-shifting dynamics.
go to album
